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Análise Do Jogo

Uncharted: Drake's Fortune

 

Uncharted: Drake's Fortune, surge numa altura crítica para a PlayStation 3. Com o Natal à porta e as vendas a não atingirem os números desejados pela Sony, a consola precisa de títulos fortes e capazes de agitar o mercado. Depois de uma longa espera, a resposta parece surgir pela mão da Naughty Dog, estúdio mais conhecido pelas excelentes séries Crash Bandicoot e Jak & Daxter. 

Desta feita, a Naughty Dog abandonou os animais falantes e as paisagens cartoonescas para se dedicar de corpo e alma a um jogo de acção e plataformas clássico, com raízes que remontam a Lara Croft e ao incontornável Tomb Raider, e, se quisermos usar referências cinematográficas, às obrigatórias aventuras de Indiana Jones. A Naughty Dog não se fez rogada e apropriou-se das melhores características de ambas as séries, juntou-lhes uns pozinhos de Gears of War sob a forma de combate armado e criou Uncharted: Drake's Fortune. Híbrido por excelência, o jogo é um desfilar de características familiares e clichés dos géneros a que vai beber, embrulhado tudo em valores de produção altíssimos e um motor gráfico que consegue revelar o verdadeiro potencial da PS3. 

A estória é bastante original, mesmo bebendo de todos os clássicos de aventura do século passado. Em Uncharted, assumimos a pele de Nathan Drake, explorador e aventureiro, que procura incessantemente o El Dorado, o mítico tesouro Muisca. Em Drake's Fortune, a Naughty Dog assumiu que o tesouro foi encontrado por um antepassado de Nathan, Sir Francis Drake, flibusteiro inglês e peça chave na vitória de Inglaterra contra a grande armada espanhola em 1588. Uncharted arranca assim com Nathan a recuperar o diário de Sir Francis Drake do fundo do oceano, obtendo pistas vitais acerca da localização do El Dorado. Parte assim à sua procura, mas cedo descobre que não é o único a desejá-lo. 

O que encontramos à medida que desvendamos este Uncharted, é um jogo que alterna entre secção de plataformas e violentos combates armados. As secções de plataformas desenrolam-se de forma fluida e muitas vezes espectacular, com Drake a saltar de penhasco para penhasco e a usar tudo o que o ambiente lhe proporciona como apoio. A câmara comporta-se de forma bastante satisfatória, chegando mesmo a adaptar-se para nos dar uma perspectiva mais abrangente dos obstáculos que temos de superar. Muitas vezes, podemos interagir com o cenário, criando pontes naturais, ou destruindo um qualquer objecto para que possamos progredir. 

Já nas secções de combate, somos brindados com vaga após vaga de inimigos armados. Usando um sistema de cobertura em tudo semelhante ao de Gears of War, vamos abatendo piratas e recolhendo as suas armas. A inteligência artificial está bem conseguida, com os nossos inimigos a procurarem esconderijos ou mesmo a usar alguma estratégia que lhes permita flanquear a nossa posição. A qualquer altura, podemos carregar duas armas diferentes, uma leve e uma mais pesada, mas raramente nos vemos obrigados a abandonar a nossa fiel pistola, tal é a precisão desta a longas distâncias. Para além do combate armado, podemos ainda embarcar em combate corpo a corpo, mas esta é uma solução de último recurso, já que o número de inimigos e os disparos constantes ditam que estejamos atrás de um muro na maioria das ocasiões. 

Nas primeiras duas ou três horas de jogo, o alternar constante entre secções de plataformas e combate pode chegar a ser saturante. Vence-se um penhasco, abate-se meia dúzia de oponentes, só para aparecerem mais não sei quantos vindos de um local obscuro do cenário. As balas começam a escassear e a situação torna-se desesperada, criando alguma tensão. Só depois de ultrapassada a metade do jogo temos acesso a algumas sequências de acção que quebram com a monotonia, disparando uma metralhadora de calibre .50 das traseiras de um jipe em movimento ou controlando uma mota de água numa cidade abandonada e repleta de inimigos. Mesmo assim, a estória de Uncharted consegue prender-nos, pelo que queremos saber que perigos vamos encontrar mais adiante e insistimos. A repetição da estrutura de jogo é assim suplantada pela narrativa, sendo um mal menor. 

Importantes para a jogabilidade são os companheiros de Drake que, quando é necessário, não têm pejo em ajudar o aventureiro, quer em termos de combate como de resolução de puzzles. Mais uma vez, a inteligência artificial está em grande. Tanto Elena Fisher como Sully, as duas personagens que durante Uncharted nos vão acompanhar, sabem cuidar de si, nunca ficando presas no cenário ou fazendo algo que não queremos. O resultado é uma experiência de jogo bastante suave, e que não se deixa arrastar por problemas deste género. 

Mas por muito que a jogabilidade seja importante, o aspecto gráfico de Uncharted leva o prémio. Desde o primeiro momento em que entramos no jogo, o trabalho da Naughty Dog é óbvio. Movimentos faciais quase perfeitos, um ambiente tropical recriado de forma fiel e que é um deleite para a vista. Enquanto vagueamos pela selva e por ruínas diversas, podemos ver pequenos pormenores de luxo, como a luz que se infiltra pelo topo do arvoredo, ou das ervas e arbustos que se movem à nossa passagem. As animações também contribuem para isto, sendo extremamente naturais e bem conseguidas. Como exemplo, tentem avançar em direcção a uma pedra baixa. Drake, coloca um pé em cima desta e, se pararem, retém a posição, à espera do movimento do analógico. O resultado é um ambiente polido e personagens que parecem verdadeiramente pertencer ao local. Mesmo assim, existem alguns problemas com texturas que se "atrasam", surgindo de repente. Isto é mais notório nas cenas em que os efeitos de luz sejam preponderantes, mas é um problema fácil de esquecer quando absorvemos tudo aquilo que Uncharted oferece. 

Em termos sonoros, o dinheiro investido nesta produção foi também bem empregue. A banda sonora orquestral acompanha toda a acção, incutindo um ambiente cinematográfico a todo o jogo. Também as vozes mantêm esta tendência, com o trabalho dos actores a ter frutos bem visíveis quando as suas personagens têm de se exprimir. Como já começa a ser hábito, Uncharted está totalmente localizado para português, com dobragens e legendas a abrirem a experiência de jogo a todos aqueles que não dominem a língua de sua majestade. 

Se há algum problema mais sério com Uncharted: Drake's Fortune, este é a sua curta duração. Sem percalços de maior e na dificuldade média, conseguimos acabar o jogo em pouco mais de cinco horas, o que é pouco para um jogo que custa 70 euros. A Naughty Dog tentou levar os jogadores a voltar ao mundo de Nathan Drake espalhando 60 tesouros escondidos pelos diversos níveis, assim como um sistema de recompensas em tudo idêntico aos Achievments da rival 360. São adições bem vindas, mas que mesmo assim não conseguem esconder o facto de Uncharted ser curto, muito curto. 

No geral, Uncharted: Drake’s Fortune funciona em pleno porque aquilo que faz, faz bem. A utilização de mecânicas de jogo que já deram provas de si noutros títulos deu origem a um jogo que sacrifica a inovação em prol de uma solidez a toda a prova. Um deleite para os olhos e, sem grandes dúvidas, a estrela de Natal da Sony, peca apenas por se esgotar em pouquíssimo tempo. Mesmo assim, é uma compra quase obrigatória para quem está sedento de jogos de qualidade.

85
Muito Bom

 

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